Agora, depois de ter entrado na terceira década da minha vida, encontro-me de pé no meu quarto e desligo o telemóvel. Sento-me na cama a pensar e a reflectir no meu passado, apesar de tudo o que tem acontecido, continuo agarrado à ideia de que o amor é uma condição essencial de uma vida cheia e maravilhosa. Fico a ouvir o som agradável dos pingos da chuva contra a janela e a iluminação dos relâmpagos, recordar tudo provoca-me uma mistura de sentimentos impossivel de descrever exactamente. Começo a perceber na generalidade que não reparam em mim e recolhi-me numa espécie de concha obrigando-me a tentar perceber o que se passa comigo e não chego a nenhuma conclusão, uma coisa é certa, sinto saudades de mim... O melhor que podemos esperar da vida é que a tragédia leve muito, mas muito tempo a chegar.
À medida que envelheco, descubro que, logo que deixo o pensamento deslizar para o passado, tudo à minha volta parece modificar-se e sofro por algo que nunca tive, talvez por saber que talvez nunca o terei... Não quero morrer sozinho... Às vezes penso se as pessoas são assim tão diferentes umas das outras, quase toda a gente deseja a mesma coisa, o coração em paz, uma vida sem sobressaltos, ser feliz. A diferença é que, na sua maioria, os mais novos parecem pensar que estas coisas os esperam num ponto qualquer do futuro, enquanto boa parte dos mais velhos acreditam que elas fazem parte do passado...
O passado não foi apenas um mar de rosas, o passado inclui também uma boa parte de desgostos.
O movimento, o trabalho parece a única maneira de não me deixar abater pelos sentimentos. A porta de entrada não é empurrada, o telefone não toca, por mais que deseje ter alguém sei que isso ainda não aconteceu. Vou até à janela, puxo as cortinas para os lados, a rua está vazia e as lâmpadas da iluminação pública estão rodeadas por halos, um cão ladra a alguém ou ao imaginário, não há ninguém na minha vida que desafie qualquer definição... Esta noite, estou só, como tantas outras, estaria sempre só, sei agora aqui sozinho a olhar a rua atravéz da janela.
Agora, aqui sozinho praticamente às escuras, consigo ouvir a minha própria respiração, sozinho com os meus pensamentos, uma angústia muda... sei que as palavras não chegam para exprimir o que sentimos, não dá para explicar tudo por palavras, as palavras ajudam, mas não solucionam os problemas...
Continuo a aceitar a vida um dia de cada vez, soa a banalidade, mas dou comigo a acordar a cada manhã e dizer a mim próprio que só preciso ser forte durante mais um dia, apenas mais um dia. Não é fácil e não posso falar de sentimentos porque não os posso controlar, vou continuar a chorar e saber que vou ter momentos em que me vou achar incapaz de prosseguir, os meus actos são praticamente as únicas coisas que posso controlar. Tudo é real como a cena que tenho agora diante dos meus olhos e tento conter as lágrimas que me começam a cair na escuridão do meu quarto, olho para o céu e imagino as ondas a rebentar numa praia numa noite de tempestade...
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Dumb anguish
Now, having entered the third decade of my life, I find myself standing in my room and hang up the phone. I sit in my bed to think and reflect on my past, despite all that has happened, I still clung to the idea that love is an essential condition for a full and wonderful life. I hear the pleasant sound of raindrops against the window and the light of lightning, remember everything cause me a mixed feelings impossible to describe exactly. I begin to realize that generally people do not notice me and I start gathered me in a sort of shell forcing me to try to understand what is going on with me and I not come to any conclusion, one thing is certain, I miss me... The best we can hope for in life is that tragedy takes very, very long time coming.
As I get older I find out that as soon as I let the thought slip into the past, everything around me seems to change up and I suffer for something that I never had, perhaps maybe because I know that I will never have it... I do not want to die alone... I sometimes wonder if people are so different from each other, almost everyone wants the same thing, the heart in peace, a life without surprises, be happy. The difference is that, mostly the younger ones seem to think that those things will wait somewhere in the future, while many of the older believe they belong to the past...
The past was not just a sea of roses, the past also includes a lot of disappointment.
The movement, the work seems the only way to not let me fell down by the feelings. The front door is not pushed, the phone does not ring, however for more that I want to have someone I know that this has not happened yet. I go to the window, pull the curtains to the sides, the street is empty and the lighting of the lamps are surrounded by halos, a dog barks to someone or to the imaginary, there is no one in my life that defies any definition... Tonight I’m alone, just like many others, would always be alone, I know that, now here alone looking at the street through the window.
Now, here alone in the dark, I can hear my own breathing, alone with my thoughts, a dumb anguish... I know that words are not enough to express what we feel, words can’t explain everything what we feel, words do help but do not solve the problems...
I continue to take life one day at a time, sounds banal, but I find myself waking up every morning saying that I just need to be strong for one more day, just another day. It is not easy and I cannot talk about feelings because I can’t control them, I will continue to cry and know that I will have moments where I will find myself unable to proceed, my actions are almost the only things I can control. Everything is real like the scene I have now before my eyes and try to hold back my tears that begin to fall down in the darkness of my room, I look at the sky and imagine the waves lapping on a beach on a stormy night...
